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Sobre museus, Brasil, cultura da não cultura

(REUTERS/Ricardo Moraes)
Essa imagem é de cortar o coração. O baixíssimo orçamento pra manutenção e funcionamento de um museu com este acervo e importância, levou a isso.
Não vou entrar nesse mérito. O que está feito, está feito.
O que quero contar é sobre minha última visita a museus, ano passado. 
(Sim, faz um ano e meio e me sinto envergonhada disso também)



O esquema era visitar museus do centro da cidade - prioritariamente - ir no Santander e MARGS, e o resto seria lucro.
Chegando lá, o arrependimento bateu mais forte que o calor úmido sufocante que só Porto Alegre em  início de março pode nos proporcionar.

Entrando no Santander, vimos poucas alas com exposições.
Fomos então em busca do Memorial do RS e na entrada quem (não) nos recepcionou foi um segurança concentradíssimo em seu celular. Depois que passamos por ele, nos avisou que somente uma ala estava em funcionamento.
Fomos em direção ao MARGS e para nenhuma surpresa, fechado.
Aí eu já estava tão frustrada que só conseguia verbalizar (infinitas vezes) o quanto aquele calor estava insuportável.

A Casa de Cultura Mário Quintana era então o destino. Lá certamente haveria algo se ver!
E o que vimos foi somente a Casa mesmo.
A biblioteca infantil, onde retirei um exemplar com o trecho mais marcante da minha infância - que dizia que vacas brancas davam leite, marrons davam café e as malhadas, café com leite ( e acreditei!), estava vazia. Um mundo de histórias presas, de cheiro de papel parado no ar e de ninguém reagindo à poeira.
Na pinacoteca, que foi meu destino durante boa parte da minha adolescência, o silêncio. Nada se ouvia. Nenhuma rotação naqueles discos. Vozes do passado, caladas.
Andares e andares de salas vazias, espaços desocupados, apenas paredes e vidros.
Único espaço habitado: terraço verde. Lá, dois ou três casais desfrutavam da calmaria e discrição da CCMQ. De um tempo diferente do que acontecia no resto da cidade.
A cabeça não parava de pensar no abandono, na falta de agitação daqueles lugares abandonados como uma cidade fantasma, enquanto continuava vomitando todo meu ódio àquele calor. O incômodo era o mesmo, mas era mais fácil resumir e descontar no clima.

No caminho de volta, subir a escadaria da Igreja Nossa Senhora das Dores, entrar e refletir em todo aquilo que estava me tirando do sério. Como podia tudo aquilo estar tão abandonado?
Como uma cidade sobrevive com o vazio de espaços culturais e ferve em todos os outros espaços? La dentro não achei respostas, era melhor buscar outro método de reflexão.

Buscar conforto na doce tradição da banana split da Banca 40, também sobrevivente de outro descaso culminado em tragédia, quase quatro anos antes: o último incêndio do Mercado Público, que destruiu todo o segundo pavimento dele.

A negligência com os museus não é só dos poderes. Temos parte nessa culpa. Toda vez que penso que a última vez que entrei num museu, foi há quase dois anos, me culpo. Me responsabilizo pela ausência de vida nesses espaços, que gera falta de interesse, que gera falta de investimento e falta de cobrança para a administração e renovação destes espaços.

Somos também os responsáveis por esse abandono, esse sucateamento da cultura. E está na hora de parar de nos isentar disso. Retomar nossos acervos, nossa cultura, nossa história.

Quando foi a sua última vez num museu (no Brasil)? E antes dessa? E a vez anterior?

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